Artigos Científicos

PACIENTE EM TRATAMENTO DE NEOPLASIA MAMÁRIA COM HIPEREXPERSSÃO HER-2, EVOLUINDO COM CARDIOTOXICIDADE, DISFUNÇÃO VENTRICULAR ESQUERDA SINTOMÁTICA.

Autor: OLIVEIRA, P.R.N.L. E-mail de contato: nauarpr@hotmail.com Instituição: Hospital Saúde da Mulher (HSM), Belém-PA.

Introdução: Quimioterapia adjuvante associada ao trastuzumab, é o tratamento de escolha para pacientes com câncer de mama HER-2 (receptor de fator de crescimento epidérmico humano, ERBB2) positivo (1). Entretanto, esse esquema é potencialmente cardiotóxico (2), sendo, portanto, de grande importância a identificação precoce e intervenção adequada em pacientes de risco (3-4).

Objetivo: Descrever o caso clínico de paciente portadora de neoplasia de mama, atendida em Hospital privado, referência em oncologia, na cidade de Belém-Pa, que evoluiu com cardiotoxicidade, insuficiência cardíaca sintomática, classe funcional III da NYHA, durante tratamento específico.

Casuística e métodos:  T.J.F.S 62 anos, parda, natural de Belém-Pa, sem antecedentes de diabetes, hipertensão ou cardiopatia prévia. Diagnosticada com carcinoma mamário invasivo tipo não especial grau III, residual, com áreas de padrão comedocarcinoma, após mastectomia radical direita, HER-2 escore 3, receptor hormonal negativo (estrogênio e progesterona) e proteína P 53 negativo. Foi submetida a esquema FEC (5-FU, epirrubicina e ciclofosfamida), em seguida iniciou-se paclitaxel e trastuzumab. Após 3 ciclos da terapia anti-HER 2, a paciente passou a desenvolver sintomas de dispnéia, congestão pulmonar e edema, com necessidade de internação hospitalar, onde solicitou-se avaliação da cardio-oncologia. Ecocardiograma transtorácico revelou disfunção ventricular esquerda de grau moderado a grave, sendo então interrompida a terapia antineoplásica (stop) e instituído tratamento padrão com IECA e beta-bloqueadores. Durante acompanhamento ambulatorial, foram realizados ventriculografia radioisotópica, angiotomografia de artérias coronárias (sem doença aterosclerótica significativa), dosagem de biomarcadores (troponina) e ecocardiogramas transtorácicos sequenciais (método de Simpson) com técnica de doppler tecidual. O tratamento da DVE (FEVE 24%) foi otimizado, acrescentando-se espironolactona e posteriormente digital e ivabradina. A paciente teve boa evolução clínica, com melhora dos sintomas, chegando a classe funcional I da NYHA e reversão parcial da DVE (FEVE 44%). Nesse estágio foi então reiniciada (restart) a terapia anti-HER2 com trastuzumab a 50% da dose, sendo a mesma acompanhada através de ecocardiograma transtorácico com doppler tecidual e dosagem de troponina após cada ciclo, com retorno periódico no serviço de cardio-oncologia.

Conclusões: As complicações cardiovasculares são frequentes nos pacientes oncológicos, em especial nos casos de câncer de mama (5). Estas são decorrentes de avanços terapêuticos que resultaram, tanto na melhora da qualidade de vida, como no aumento da sobrevida das pacientes. Ressalte-se que, certos efeitos deletérios do tratamento quimioterápico no músculo cardíaco, podem determinar impacto significativo na sobrevida, resultando em aumento de morbidade e mortalidade (6). Dentre as diversas manifestações clínicas da cardiotoxicidade, a mais temida é a disfunção ventricular esquerda, levando a insuficiência cardíaca congestiva (7). O desenvolvimento de protocolos, específicos, nas diversas instituições de nossa região, sejam públicas ou privadas, são fundamentais para o manejo adequado dos doentes.  A interação entre a cardiologia e a oncologia contribui para a melhor evolução dos pacientes (8), tendo como objetivos principais a adoção de estratégias de prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento das doenças cardiovasculares nessa população (9).

Bibliografia:

  1. Ky B, Putt M, Sawaya H, French B, et al. Early Increases in Multiple Biomarkers Predict Subsequent Cardiotoxicity in Patients With Breast Cancer Treated With Doxorrubicin, Taxanes and Trastuzumab. J Am Coll Cardiol. 2014 March 4;63(8):809-816.
  2. Yeh ET, Tong AT, Lenihan DJ, Yusuf SW, Swafford J, Champion C, et al. Cardiovascular complications of cancer therapy: diagnosis, pathogenesis, and management. Circulation. 2004;109(25):3122-31.
  3. Sengupta PP, Northfelt DW, Gentile F, Zamorano JL, Khandheria BK. Trastuzumab-induced cardiotoxicity: heart failure at the crossroads. Mayo Clin Proc. 2008;83(2):197-203.
  4. Chen T, Xu T, Li Y, Liang C, Chen J, Lu Y, et al. Risk of cardiac dysfunction with trastuzumab in breast cancer patients: a meta-analysis. Cancer Treat Rev.2010 Oct 15. [Epub ahead of print].
  5. Ewer MS, Lippman SM. Type II chemotherapy-related cardiac dysfunction: time to recognize a new entity. J Clin Oncol. 2005;23(13):2900-2.
  6. Stewart S, MacIntyre K, Hole DJ, Capewell S, McMurray J. More malignant than cancer? Five-year survival following a first admission for heart failure. Eur J Heart Fail. 2001;3(3):315-22.
  7. Sengupta PP, Northfelt DW, Gentile F, Zamorano JL, Khandheria BK. Trastuzumab-induced cardiotoxicity: heart failure at the crossroads. Mayo Clin Proc. 2008;83(2):197-203.
  8. Ewer MS, Ewer SM. Cardiotoxicity of anticancer treatments: what the cardiologist needs to know. Nat Rev Cardiol. 2010;7(10):564-75.
  9. Kalil Filho R, Hajjar L, Bacal F, Hoff P, et al. I Diretriz Brasileira de Cardio-Oncologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol 2011; 96(2 supl.1): 1-52.
13 de agosto de 2015
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Descrição de caso Clínico

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